segunda-feira, 8 de junho de 2009

Perfil psicológico

Perfil psicológico dos personagens do conto “santos” p/ Catoto


Filho

Homem de trinta e poucos anos, solteiro, que saiu de casa ainda novo, para estudar. Fez sua vida adulta fora dessa casa e fora desse clima. 

Voltar, mesmo como visita, a essa casa lhe traz culpa, medo e pesar. Um pesar enorme. Um pesar de toda essa solidão que ele também, de certa forma, sente e também, sem querer, se sente culpado por criar. Por que foi embora, por que se desligou dessa mulher e foi tentar procurar uma vida para si, tirando a si mesmo das mãos dela.

O ambiente ter permanecido imutável desde que o último homem de sua mãe partiu lhe gera angústia, lhe sufoca, lhe dá menos vontade ainda de voltar ali. A sensação de que nada mais ali é vivo, ou leve, ou pode se transformar, lhe repele a ir embora o mais rápido possível, por medo de ser afetado (ainda mais) por isso e não conseguir, ele mesmo, ir adiante.

Ao mesmo tempo, relê ali suas origens, sente ali um conforto de pertencimento, de conhecer o que está em cada canto (mesmo que mofado) da casa. Conhece os segredos da casa. Que não quer carregar, mas carrega, sem querer (e não quer, mas precisa).

Tem também medo de causar, ele mesmo, outro abandono como esse e por isso não consegue se ligar a ninguém. Mas acha que conseguirá e segue tentando, pela vida na sua outra cidade, longe desta mãe sem vida, onde acha que consegue que seja menos penoso viver e se relacionar.

Suas roupas também surradas, suas entradas no cabelo também mal cuidado, não são notados por ele, que vê nesta mãe tudo tão mais desvitalizado e parado. Mas são no fundo muito parecidos. 

E o medo dele toda vez que vai visitar, é de não conseguir sair dali, mesmo sabendo o caminho de volta e conhecendo segredo da fechadura.


Mãe

Mulher de cinqüenta e poucos anos, que se casou cedo e dedicou sua vida à família, acreditou que a vida seria correta assim e não trilhou por si mesma outros caminhos ou outras escolhas a não ser a de ser esta mulher, que esperavam que ela fosse.

Nunca traiu, nunca se ausentou de seu núcleo familiar, nem nunca sonhou com vida diferente desta, e ao perceber que seu papel seria agora dispensável, perdeu completamente sua vitalidade e sua razão de seguir adiante ainda que antes não fosse muito mais viva do que aquilo.

Mulher bonita que era quando nova, foi ficando cada vez menor e mais magra, mais sem cor, sem vícios e sem distrações, ao perder o filho para a vida adulta dele e o marido, para sempre.

Não tinha capricho algum, ao tinha vontades, nem desejos. Era só mulher desses homens que teve e que eram para ela o motivo de viver.

Não tinha em si nenhuma gana de outro destino, a não ser que lhe cessasse a vida já que a vida lhe foi tirada dela antes disso. 

Encontrar o filho era não mais do que uma obrigação e de certa forma uma vergonha. Não por não amá-lo ou por não desejar para ele algo bom em seu futuro, mas por estar ali sem papel, constrangida, sem saber onde colocar as mãos, ou fixar o olhar. 

Ele não era mais seu filho, por que não precisava mais dela. E ela, assim já não era mais nada, por que não tinha a quem servir, a quem amar e por quem olhar. 

Não aprendeu a olhar por si mesma. E aqueles copos, pratos, toalha de mesa velhos eram isso: não mereço e não quero ir adiante. Seu vestido amarelado e seu cabelo por pintar, eram isso: não tenho por quê. E não tinha. Suas mãos magras não tinham o jeito para afagar mais. Seus passos lentos, não tinham direção a seguir mais. 

Sua preocupação era momentânea e de costume com seu filho, mas sua preocupação não existia mais. Era tudo um vazio. Passando sem sentido.

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