quarta-feira, 27 de outubro de 2010

ref

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quinta-feira, 23 de julho de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Perfil físico

Filho:

Homem forte, de uns 40 anos, vestido com roupas boas, porém velhas, surradas e desbotadas. Um pouco acima do peso. Ombros arqueados, uma leve calvície no topo da cabeça, entradas acentuadas. Os cabelos bem pretos, lisos e grossos, os olhos pequenos, castanhos. Boca carnuda, a barba rala por fazer e o nariz pontudo, mas não muito grande.

Nos pés sapato de couro, com cadarço, desamarrado, também bom, mas já gasto. 

Mãos grandes, mas desajeitadas, com unhas fortes, um pouco compridas, por não ter se lembrado de cortá-las e muitos pêlos nos braços fortes. 

O tronco forte, desproporcional às pernas. Pernas mais frágeis, joelhos curvos para dentro. A cabeça grande, pesada. 

A imagem é de uma espécie de ogro deslocado, frágil e desajeitado. Um forte, que não é forte. Um bruto que não sabe e não pode usar a força. Que se esconde e se protege de sua delicadeza, que não é óbvia, com a droga.




Mãe:

Mulher muito magra, de uns quase 70 anos, traços bonitos, mas já enrugados, pele seca, os cabelos curtos, volumosos, branco-amarelados e com resquícios daquela tinta aroxeada que as velhinhas passam nos cabelos já totalmente brancos. 

Os olhos pequenos, meio verde exército, fundos e com um esbranquiçado na parte superior da íris. O olhar constantemente perdido atrás dos óculos meio bambos, de aro grosso. O nariz pequeno, fino.

O corpo todo arqueado, as mãos frágeis, sempre dadas, no colo, se segurando. As pernas muito fracas, os braços também muito finos. Quase pele e osso.

O vestido florido desbotado e manchado, as chinelinhas nos pés pequenos também um pouco rotas. 


segunda-feira, 8 de junho de 2009

conto

santos



Longe da carne, à mesa, domingo, depois de tanto tempo, de costas para o mar e de frente para aquela que o pariu. No centro da sala tomada de mofo, mobília antiga e melancolia. O almoço é servido. O prato não muda. Os talheres também. Renovou os copos de requeijão. 


A conversa é a mesma da última vez. O vestido idem. O cabelo precisa pintar. Passa o abacaxi de garrafa e aquece o arroz, sem mais água porque empapou. A TV não sintoniza direito, força prestar atenção às perguntas enquanto mastiga.


A toalha tem uma mancha que desbotou tudo ao redor. Sem piedade ou empregada zelosa. A casa está uma bagunça, o armário sem uma das portas e o quarto virou depósito. O passado é vomitado de dedo na garganta e emoldurado ou acondicionado em álbuns que são pura rinite.


Afasta a cadeira, pede licença e relembra o banheiro. A revista masculina dá lugar a um grama de anestesia. Bate no espelho de mão e cheira ao lado do Alma de Flores. Precisa agora de uma cerveja, mas só há suco concentrado. E carne moída. Ninguém merece a solidão.


Cheira maresia e molho inglês. Exagerado como o sofrimento desde que o marido partiu. É de exigir amor até das samambaias penduradas por todos os lados. Em dias sem sal, espreme limão para voltar a sentir algum sabor.


O barulho da geladeira que nunca desliga perde para o lamento de quem acha que ser gostado deve ser respondido com exclusividade servil. Arrasta a cadeira novamente e rói as narinas como a paixão o faz com o que supunha vida. 


A morte só deveria ser de susto ou vício, nunca de amor. Certezas só atrapalham o que nunca dá certo no final. Como a sobremesa que gruda na fôrma cansada dos maus-tratos na cozinha. 


O perfume forte e as lágrimas confirmam que a lógica não é de contemplar todas as partes interessadas.


A garoa aumenta a neblina e tira a cor do mar. A corrente de ar esfria o café coado de qualquer maneira. A xícara é uma apenas, a da visita. O pires não combina. O açúcar tem formiga e nem faz calor. A pia acumula desesperança.


Quando arrasta a cadeira de novo, é para sair. A marmita enrolada no pano de prato carrega a dor de quem ama demais e hoje espera a morte. Esquecida da própria identidade. Porção de rancor, prova de que não há prova de nada. A mãe de Munch fora do quadro.


Dói.


Para sair, o segredo é empurrar o portão empenado enquanto dá volta com a chave. 

Perfil psicológico

Perfil psicológico dos personagens do conto “santos” p/ Catoto


Filho

Homem de trinta e poucos anos, solteiro, que saiu de casa ainda novo, para estudar. Fez sua vida adulta fora dessa casa e fora desse clima. 

Voltar, mesmo como visita, a essa casa lhe traz culpa, medo e pesar. Um pesar enorme. Um pesar de toda essa solidão que ele também, de certa forma, sente e também, sem querer, se sente culpado por criar. Por que foi embora, por que se desligou dessa mulher e foi tentar procurar uma vida para si, tirando a si mesmo das mãos dela.

O ambiente ter permanecido imutável desde que o último homem de sua mãe partiu lhe gera angústia, lhe sufoca, lhe dá menos vontade ainda de voltar ali. A sensação de que nada mais ali é vivo, ou leve, ou pode se transformar, lhe repele a ir embora o mais rápido possível, por medo de ser afetado (ainda mais) por isso e não conseguir, ele mesmo, ir adiante.

Ao mesmo tempo, relê ali suas origens, sente ali um conforto de pertencimento, de conhecer o que está em cada canto (mesmo que mofado) da casa. Conhece os segredos da casa. Que não quer carregar, mas carrega, sem querer (e não quer, mas precisa).

Tem também medo de causar, ele mesmo, outro abandono como esse e por isso não consegue se ligar a ninguém. Mas acha que conseguirá e segue tentando, pela vida na sua outra cidade, longe desta mãe sem vida, onde acha que consegue que seja menos penoso viver e se relacionar.

Suas roupas também surradas, suas entradas no cabelo também mal cuidado, não são notados por ele, que vê nesta mãe tudo tão mais desvitalizado e parado. Mas são no fundo muito parecidos. 

E o medo dele toda vez que vai visitar, é de não conseguir sair dali, mesmo sabendo o caminho de volta e conhecendo segredo da fechadura.


Mãe

Mulher de cinqüenta e poucos anos, que se casou cedo e dedicou sua vida à família, acreditou que a vida seria correta assim e não trilhou por si mesma outros caminhos ou outras escolhas a não ser a de ser esta mulher, que esperavam que ela fosse.

Nunca traiu, nunca se ausentou de seu núcleo familiar, nem nunca sonhou com vida diferente desta, e ao perceber que seu papel seria agora dispensável, perdeu completamente sua vitalidade e sua razão de seguir adiante ainda que antes não fosse muito mais viva do que aquilo.

Mulher bonita que era quando nova, foi ficando cada vez menor e mais magra, mais sem cor, sem vícios e sem distrações, ao perder o filho para a vida adulta dele e o marido, para sempre.

Não tinha capricho algum, ao tinha vontades, nem desejos. Era só mulher desses homens que teve e que eram para ela o motivo de viver.

Não tinha em si nenhuma gana de outro destino, a não ser que lhe cessasse a vida já que a vida lhe foi tirada dela antes disso. 

Encontrar o filho era não mais do que uma obrigação e de certa forma uma vergonha. Não por não amá-lo ou por não desejar para ele algo bom em seu futuro, mas por estar ali sem papel, constrangida, sem saber onde colocar as mãos, ou fixar o olhar. 

Ele não era mais seu filho, por que não precisava mais dela. E ela, assim já não era mais nada, por que não tinha a quem servir, a quem amar e por quem olhar. 

Não aprendeu a olhar por si mesma. E aqueles copos, pratos, toalha de mesa velhos eram isso: não mereço e não quero ir adiante. Seu vestido amarelado e seu cabelo por pintar, eram isso: não tenho por quê. E não tinha. Suas mãos magras não tinham o jeito para afagar mais. Seus passos lentos, não tinham direção a seguir mais. 

Sua preocupação era momentânea e de costume com seu filho, mas sua preocupação não existia mais. Era tudo um vazio. Passando sem sentido.

sexta-feira, 22 de maio de 2009